domingo, 14 de fevereiro de 2016

#PAPODEAUTOR: História, Enredo e Cena (#dica4)



Vou dar um hiato na caracterização de personagem, porque me dei conta de que não falei para vocês as diferenças entre história e enredo. E nem sobre o que é uma cena. E, embora pareça fácil, conheço algumas pessoas que confundem um conceito com o outro. 

Pode parecer bobinho, mas saber esses conceitos ajuda muito na hora de sentar e pensar em como vai escrever sua ideia pro papel. 

O QUE É UMA HISTÓRIA? 

A história é basicamente alguém (seu personagem principal) querendo alguma coisa e enfrentando obstáculos na tentativa de conseguir o que deseja. 

Ficou confuso? 

Vamos pensar em exemplos que, talvez, fique mais claro: 

Homem ciumento tenta a todo custo provar que sua mulher o traiu (e teve um filho) com seu melhor amigo, mas não tem provas além de sua vã imaginação. 

Reconheceu? A história clássica de Machado de Assis, Dom Casmurro, é basicamente essa. 

Outra: 

Escritor decepcionado com a vida de roteirista, e apaixonado pelos anos vinte, viaja para Paris, onde encontra um jeito de voltar no tempo e conhecer suas principais influências como artista. 

Meia-Noite em Paris, o meu filme preferido de todos os tempos! 

Depois de perder sua irmã num grave acidente de carro, achando-se culpada, garota tenta esquecer tudo o que é e o que já fez com drogas em excesso e sexo sem proteção. 

Arrá! 

Se você disse TUDO AQUILO QUE EU NÃO SOU, parabéns, vem cá, deixa eu te dar um abraço por você me ler no wattpad! 

Tá, você deve estar pensando, se isso é a história, então 

O QUE É ENREDO? 

Enredo é a maneira como o autor decide contar a história. De que ponto ele começa e aonde ele termina. 

Por exemplo, em Meia-Noite Em Paris, o filme começa com o escritor chegando a Paris, encantado com a cidade, e sua mulher discutindo o fato de que ele quer abandonar sua carreira de sucesso como roteirista de filmes de Hollywood. Essa é basicamente a primeira cena do filme. A partir daí, toda a história se desenvolve, você percebe que o casal de personagem, embora noivos, quase não tem intimidade, até que, sem querer, ele descobre uma maneira de ir para sua época histórica preferida e conhece Hemingway (nem invejo!). 

No caso de Dom Casmurro, a história começa com Bentinho, já velho, dentro do trem, contando a história para um passageiro que não está afim de ouvi-la. Ele está recordando sua história com Capitu. Machado de Assis tinha mil e uma maneiras para contar aquela história (poderia ter feito uma linha temporal normal, de quando eles se apaixonam até o desfecho, mas preferiu trabalhar com as memórias de um viúvo, que ninguém suporta, nem mesmo confia). 

Na Menina Vê, eu poderia ter começado com o acidente da irmã. Mas, porque isso iria aumentar o conflito/interesse do leitor na história, eu comecei com uma cena clichê dela acordando na cama de um total desconhecido, sem saber o que havia acontecido na noite anterior. Embora seja uma cena quase inocente, no primeiro capítulo tem todas as informações importantes sobre o tema principal da história: ela bebeu tanto que não sabe nem com quem foi para cama, nem aonde está e, pior, também não sabe se usou camisinha. Esses detalhes, pro leitor, fica só mais claro com o passar dos capítulos, e as atitudes se tornam recorrentes, mas quem voltar pro primeiro capítulo vai ver que tudo que era necessário eu fiz questão de colocar lá. 

Por quê? 

Estrutura. Essa parte eu vou deixar para um post especial um pouco mais a frente, mas adianto que é sempre bom colocar todas as informações importantes da sua história nos primeiros 10% em que está contando. 

Certo, Fernanda, se história é uma informação que você embrulha em emoção para transmitir ao leitor, e o enredo é o modo como você vai contar,

 O QUE É UMA CENA? 

A cena, nada mais é, do que o recurso que você utiliza para dar forma ao enredo. É por meio dos encadeamentos delas que você vai passar a informação ao seu leitor e fazer com que ele se identifique com seus personagens. 

Assim, toda cena precisa de um objetivo. TODA CENA? SIM! SEM OBJETIVO NÃO HÁ HISTÓRIA! E é por isso que conhecer seu personagem é tão importante, perceberam? 

Uma cena formada basicamente de três elementos: 

OBJETIVO 

OBSTÁCULO 

DESFECHO 

Exemplo banal para vocês entenderem: você tem uma prova amanhã e precisa estudar, mas acontece que acabou de sair um episódio novo da sua série preferida. 

OBJETIVO: estudar. 

OBSTÁCULO: episódio da sua série favotita 

DESFECHO: você resolve ver a série. 

Dentro do desfecho, você pode (ou não, depende do tipo de história) cair em SEQUELA.

 O que é sequela? 

Sequela é basicamente o fluxo de pensamento da sua personagem, o que ela pensa enquanto toma consciência do objetivo e do obstáculo que precisa enfrentar. 

A sequela é formada por: 

REFLEXÃO 

DILEMA 

DECISÃO 

A reflexão para a cena bobinha acima seria: se eu assistir o episódio da série, vou atrasar meus estudos e posso me prejudicar na prova; se eu não ver a cena logo, não vou conseguir concentrar no estudo e ainda corro o risco de tomar spoiller de algum babaca metido a engraçadinho que tem rede social. 

O dilema é basicamente o “caso ou compro uma bicicleta?”, “cago ou saio da moita?”, assim, nesse caso, o dilema seria: vejo a série ou vou estudar? 

E a decisão, obviamente, é o que a personagem decide. No caso acima, ela decide ver a série mesmo com todos os contras que essa decisão pode acarretar. 

ATENÇÃO: o flashback é uma SEQUELA, ele entra logo depois da reflexão! Mas eu não vou falar de flashback agora porque a construção dele é complexa, grande e esse post já ta enorme. Mais para frente eu falo sobre isso. 

Agora mãos a obra! Pegue sua ideia para um livro (e até o que você já desenvolveu para esse livro) e pense: 

QUAL É A SUA HISTÓRIA? 

QUAL É O SEU ENREDO?

QUAL É O PRINCIPAL OBJETIVO DO SEU PERSONAGEM?
(ou, em outras palavras, o que o motiva a fazer o que faz?) 

E, caso já tenha começado, como são as suas cenas! Ah, e tente de verdade ver se toda a sua cena tem objetivo – obstáculo – desfecho (se não tiver, invente, pode ser o mais bobinho de todos, mas sem obstáculo não tem MOTIVAÇÃO DE PERSONAGEM e sem motivação do personagem NÃO TEM ENREDO). 

(Próxima dica eu vou falar sobre diferenças na percepção de cenas e de sequelas através dos filtros dos personagens. Fiquem atentos porque isso é MUITO importante!) 

Já sabem, curtem, compartilhem, indiquem e comentem aqui embaixo! Beijos cafeinados!


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