segunda-feira, 30 de maio de 2016

Sobre a necessidade de ter opinião sobre tudo

"Essa história tá muito mal contada", "mas ela já era mãe com 16 anos!", "ah, ela era uma drogada", "isso é tudo papo de feminazi que quer denegrir a imagem dos homens", "ela não se dava ao respeito". 

Hoje eu até que queria fazer um texto bonitinho sobre amor, sobre relacionamento, sobre qualquer outra coisa que não as frases absurdas que tem rodado na internet esses dias. 

Uma menina de 16 anos foi estuprada por 33 caras. Tem vídeo rolando na internet. Tem foto rolando na internet. Tem áudio dos caras se vangloriando de terem feito o que fizeram.

Mas o pior: tem gente tentando justificar, descaracterizar, relativizar. Porque ela tava na comunidade. Porque ela tinha 16 anos e já era mãe. Porque ela tinha fotos com armas no facebook. Porque ela era usuária de drogas. Porque ela transava com vários caras.

De repente todo mundo conhece a menina e sabe tudo sobre a vida dela. Todo mundo teve acesso aos autos do inquérito policial, leu os depoimentos, viu os laudos da investigação. Todos viram peritos, delegados, policiais e juízes. 

A gente tem mania de falar sobre tudo, né? Somos a geração da informação, das redes sociais, da rapidez tecnológica. Uma notícia sai e alguns minutos depois a gente tem que se posicionar sobre ela. Precisamos correr pro facebook e escrever a nossa visão daquele acontecimento.Ah, vai ter textão. Precisamos disseminar nossa opinião! Só porque temos os meios que possibilitam isso. 

Só que aí não dá tempo de pensar direito. Aliás, não dá tempo nem de pensar. Não tem como questionar. Ou tampouco imaginar o que aconteceu no outro lado da história. 

Somos tomados por uma vontade tão grande de falar alguma coisa que acabamos falando qualquer coisa. E nisso alguém é ofendido, machucado, um direito é ferido e, pasmem!, até cometem crimes. Porque opinião só é opinião até a página dois. Depois de um limite constitucional vira crime. 

Tudo bem querer ter a sua opinião e a declarar para os outros. A democracia permite isso. A internet possibilita isso. Mas apologia ao estupro não é opinião. Questionar uma vítima não é algo bonito pra se postar no facebook. A gente não precisa manifestar uma opinião sobre tudo. Deixa as possibilidades entrarem na sua cabeça em silêncio. Se permita pensar no outro lado. Se coloca no lugar do outro. Tenta abrir a mente pro fato de que não sabemos tudo sobre qualquer assunto. 
Aí, se realmente resolver se posicionar, dá uma pesquisada antes pra saber do que você tá falando. Pesquisa, pensa fora da caixa, admite que às vezes a gente erra mesmo em algumas coisas. 

Tem coisa que a gente não entende e nada mais justo não falar sobre o que não sabe. Medir a dor de alguém ou tentar diminui-la é de uma mesquinharia e leviandade sem tamanho. 

É melhor ficar em silêncio do que disseminar "opiniões" crueis internet afora em nome apenas de se posicionar pra ganhar uns likes no facebook. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Compartilhe