Já me apaixonei por muitos caras
ao longo dessa vida. Talvez a explicação para isso esteja no meu mapa astral,
mas quer saber? Tanto faz, eu nem acredito nesse lance de horóscopo mesmo. Já
fui conquistada com almoços incríveis porque sabiam da minha enorme preguiça de
cozinhar. Já fiquei encantada com um sentimento de proteção, com aquela
sensação maravilhosa de olhar dentro dos olhos do outro e encontrar um outdoor
que diz “Ei, não se preocupa, estarei aqui sempre que você precisar”. Já
me ganharam até com aqueles beijos bem gostosos de mesa de bar, daqueles que
você curte ao máximo porque sabe que não precisa se preocupar em ligar no dia
seguinte.
Isso é tudo que consigo falar sobre
os outros e se você precisou ficar aqui, sozinho em outro parágrafo, é porque
no seu caso as coisas são bem diferentes. Porque encontrar um motivo que
explique o porquê de eu ter me apaixonado por você é mais difícil do que
encontrar aquela meia que a gente sempre perde quando vai lavar roupa. Mais
difícil que comer só o primeiro biscoito recheado do pacote e guardar o resto
para depois. As peças do seu quebra-cabeça nunca se encaixavam, por mais que eu
tentasse começar pelas bordas para facilitar o trabalho. Você não tinha causa,
motivo, razão, circunstância ou qualquer outro sinônimo que se possa utilizar
para representar essa dúvida que você deixa pairando no ar.
Você não sabia cozinhar pratos
muito elaborados e quando tentava seguir alguma receita o resultado era
desastroso, mas se eu dizia que estava com fome você prontamente pegava o telefone
e ligava para alguma pizzaria. Você nunca perguntava qual sabor eu queria
porque já tinha decorado que marguerita era a minha preferida. Às vezes você
não respondia minhas mensagens porque estava envolvido com aquele jogo de
computador cheio de tiros, socos e facadas. Às vezes você me fazia esperar por
horas, mas quando decidia ligar, não deixava que minhas reclamações se
transformassem numa discussão. Você me ouvia sem contestar até que eu me
acalmasse e quando isso acontecia não se queixava, apenas respirava fundo e me
perguntava o que eu queria fazer no fim de semana.
Você sempre deixava a toalha
molhada em cima da cama e o tubo de creme dental aberto em cima da pia, mas
nunca reclamava dos fios ruivos que se espalhavam pelo banheiro quando eu
secava o cabelo. Você odiava tirar o pó dos móveis, mas se responsabilizava por
essa tarefa doméstica para me poupar das minhas crises alérgicas. Você nunca
foi um cara muito romântico, mas naquela época em que eu precisei retirar as
amígdalas você fez questão de enviar um buquê de lírios lá pra casa. Quer saber
de um segredo? Eu sei que não foi você quem escreveu o cartão, mas não se
preocupe, amei a surpresa mesmo assim.
Ao seu lado tudo era tranquilo
descomplicado. Você fazia o amor parecer uma tarefa fácil, tão simples quanto
preparar aquelas lasanhas congeladas que nós comíamos quando já estávamos
enjoados das pizzas. Você fazia com que eu considerasse a ideia de passar a vida
toda ao lado de alguém um pouco menos absurda. Na verdade, você me ajudou a
perder o medo dessa ideia porque me mostrou que não há problema algum em amar
alguém exageradamente assim como eu te amo. Continua sendo difícil encontrar
motivos específicos para explicar tudo isso, mas a verdade é que talvez eu
tenha me apaixonado porque você era leve, porque quando segurava minhas mãos me
transmitia um pouco dessa leveza e então me fazia flutuar junto com você.
*O título do texto é um trecho da música Os Outros da banda Kid Abelha.
Encontrar esta leveza que é uma tarefa árdua! O amor é mesmo simples e bonito!
ResponderExcluirBeijos,
Fê
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